O Rei de Marrocos, Mohammed VI, abriu os Market Days do Fórum Africano de Investimento de 2023 na quarta-feira com um apelo aos africanos para que trabalhem em conjunto para atrair os níveis de investimento privado necessários para impulsionar o desenvolvimento inclusivo do continente.
Os Market Days, uma iniciativa do Banco Africano de Desenvolvimento e de sete outros parceiros, estão a decorrer em Marraquexe, Marrocos, durante os próximos três dias. A plataforma do Fórum Africano de Investimento faz avançar os projetos para a bancarização, angaria capital e acelera os negócios para o encerramento financeiro.
"África precisa agora, mais do que nunca, de iniciativas arrojadas e inovadoras para incentivar o empreendedorismo privado e libertar todo o potencial do nosso continente", afirmou o Rei num discurso de abertura lido em seu nome pelo seu conselheiro Omar Kabbaj, Presidente Emérito do Banco Africano de Desenvolvimento.
O Rei afirmou que Marrocos poderia servir de modelo para os esforços de outros países africanos no sentido de ultrapassar as suas lacunas em matéria de infraestruturas. "Nas últimas duas décadas, Marrocos fez do desenvolvimento das infraestruturas uma prioridade em todos os setores económicos", afirmou. Informou também que o país estava a avançar para o objetivo de obter mais de 52% do seu cabaz nacional de eletricidade a partir de energias renováveis até 2030.
O Rei sublinhou ainda que os países africanos devem reforçar "os mecanismos de coordenação e cooperação para impulsionar a integração regional". Como exemplo do esforço do país para estabelecer parcerias com os seus vizinhos, citou o Projeto de Gasoduto Marrocos-Nigéria. O projeto "permitirá que todos os países ao longo da rota do gasoduto tenham acesso a fornecimentos de energia fiáveis e sejam mais resistentes a choques exógenos nos preços da energia".
Vários chefes de Estado e mais de 1000 participantes, incluindo CEOs, líderes de instituições financeiras multilaterais e regionais, líderes empresariais e promotores de projetos e ministros de governos estão a assistir aos Market Days de 2023. Os Chefes de Estado e de Governo aproveitaram a oportunidade para defender o investimento nos seus países, participando em salas de reuniões centradas em negócios e plenários temáticos. Entre eles contam-se Azali Assoumani, Presidente da União das Comores e atual Presidente da União Africana, Samia Suluhu Hassan, da Tanzânia, o Presidente da Serra Leoa, Julius Maada Bio, o Primeiro-Ministro do Ruanda, Eduardo Girente, e a Primeira-Ministra dos Barbados, Mia Mottley.
Uma plataforma para facilitar os investimentos em África
No seu discurso de abertura, o Dr. Akinwumi A. Adesina, Presidente do Grupo Banco Africano de Desenvolvimento, salientou as perspetivas de África como um destino de investimento privilegiado.
O continente não é tão arriscado como se pensa e está a crescer e a mostrar resiliência apesar dos desafios globais, disse, apresentando argumentos para os investidores globais procurarem retornos ajustados ao risco elevado em África. "Enquanto investidores, coloquem o vosso dinheiro onde está o futuro – o futuro é África", disse Adesina.
Após as declarações de abertura, os Chefes de Estado participaram numa conversação sobre a aceleração da transformação económica de África.
O Presidente Assoumani salientou que as exportações de produtos manufaturados africanos representam apenas 1% das exportações mundiais. “Exportamo-las para os países desenvolvidos e esses países reexportam-nas para nós transformadas e vendem-nas de volta a um preço dez vezes superior", lamentou.
"Apesar dos obstáculos, existem enormes oportunidades para o desenvolvimento de cadeias de valor em África", acrescentou.
A Presidente Hassan da Tanzânia afirmou: "A conectividade é um problema em África. Temos de investir na conectividade do continente". Referiu que recentemente teve de passar por Paris a partir do seu país na África Oriental para chegar a Dakar na África Ocidental.
O Presidente Bio, da Serra Leoa, afirmou que "os obstáculos são oportunidades e a forma como os transformamos em oportunidades é o mais importante. As nossas economias não são suficientemente diversificadas e, assim que há um choque, sofremos as consequências. E estamos à mercê das flutuações de produtos de base como o petróleo".
Mottley agradeceu ao governo de Marrocos e ao Banco Africano de Desenvolvimento pelo convite, permitindo que os africanos e os caribenhos recuperassem o nosso destino atlântico. "Estamos a descobrir cada vez mais que as oportunidades de sinergias e solidariedades são claras". A primeira-ministra de Barbados tem sido uma voz forte em nome do sul global. Em 2022, antes da COP27, Mottley anunciou a Iniciativa de Bridgetown, uma agenda para a reforma da arquitetura financeira global e do financiamento do desenvolvimento no contexto de três crises globais que se cruzam: dívida, clima e inflação.
"Não nos peçam para escolher as pessoas em detrimento do planeta ou o planeta em detrimento das pessoas", disse Mottley, recomendando uma abordagem unificada para criar condições de concorrência equitativas. A dirigente afirmou ainda que os povos africano e caribenho podem estabelecer parcerias em várias áreas, incluindo o desenvolvimento farmacêutico e o turismo, em particular a indústria dos navios de cruzeiro.
Girente elogiou o Fórum Africano de Investimento. "Gosto de eventos em que se discutem ações em vez de potencialidades. Precisamos de ação agora", afirmou, apelando à eliminação das barreiras à livre circulação de pessoas.
Adesina, o presidente do Fórum Africano de Investimento, também elogiou a plataforma. Segundo ele, o que torna o Fórum único e notável é o facto de ser altamente inovador e 100% transacional. "Desenvolvemos e selecionamos projetos, reduzimos os custos e os riscos das transações e aceleramos a conclusão dos negócios", disse Adesina. "O nosso objetivo é simples: fazer com que os investimentos cheguem a África sem problemas".
Ele exortou os participantes a aproveitarem as oportunidades apresentadas durante os Market Days: "Sejamos concretos, ousados e decisivos. As salas de reuniões foram bem preparadas. O relógio está a contar. Os promotores de projetos estão cá. Os investidores estão cá. Os chefes de Estado e de Governo estão cá. E as instituições financeiras estão cá. Portanto, que comecem os negócios".
Os Market Days de 2023 decorrem sob o tema "Desbloquear as cadeias de valor de África". Irão ligar os investidores a negócios financiáveis em vários setores, incluindo as energias renováveis, o agronegócio e o fabrico de baterias de iões de lítio para veículos elétricos.
Adesina transmitiu também a solidariedade dos parceiros do Fórum Africano de Investimento para com Marrocos, na sequência do terramoto devastador que atingiu o país no início de setembro. O Banco Africano de Desenvolvimento comprometerá 782 milhões de euros em financiamento para vários projetos no país em 2023.
Os Market Days de 2023 decorrem de 8 a 10 de novembro. As edições anteriores dos Market Days atraíram mais de 16.500 participantes e geraram um interesse de investimento acumulado de quase 143 mil milhões de dólares.
Os oito parceiros fundadores do Fórum Africano de Investimento são o Grupo Banco Africano de Desenvolvimento, Africa50, Corporação Financeira Africana, Afreximbank, Banco de Desenvolvimento da África Austral, Banco Europeu de Investimento, Banco Islâmico de Desenvolvimento e Banco de Comércio e Desenvolvimento.
